Pessoas inteligentes que gostam da verdade

23 de maio de 2014

Militares tem desprezo pelo conhecimento

  
REPASSO AQUI O QUE ME ENVIARAM POR E-MAIL:
   
  
  
Prezados companheiros de armas das FFAA, assistam ao vídeo abaixo:
 
Como disse Rosewelt Conceição Pires:
"Embora machuque, reconheço que suas palavras não estão muito longe da verdade. Ditas assim de forma agressiva e incisiva, provocam uma reação inicial de repúdio e irritação, mas depois de um período de reflexão, passado o primeiro impacto, é impossível não admitir a coerência e veracidade."

Concordo com o Rosewelt.

Há alguns meses, recebi um outro vídeo do Olavo batendo na mesma tecla, qual seja, o despreparo dos chefes militares em assimilar e admitir a existência do processo gramsciano de tomada do poder.
Através do historiador Azambuja, que se corresponde com o Olavo de Carvalho, enviei-lhe o texto abaixo, assinando-me Charles Louis de Secondat – Barão de la Bréde e de Montesquieu II. Não recebi resposta do Olavo.

Hoje, e com um zilhão de palavras duras e até com uns palavrões, como é do seu feitio, recebi o vídeo acima referenciado no qual ele bate na mesma tecla do despreparo (e da inércia) dos chefes militares para contra-atacar o processo gramsciano que vai de vento em popa.

Se anos antes, os Comandantes, no recesso dos seus lares, houvessem dedicado algum tempo para ler com atenção um artigo do general José Fábrega, publicado em um jornal de pequena circulação, e "dois livros espetaculares, tecnicamente perfeitos, do general Sérgio Augusto de Avelar Coutinho, A Revolução Gramscista no Ocidente (Rio, Estandarte, 2002) e Cadernos da Liberdade (Belo Horizonte, Grupo Inconfidêncis, 2004)", certamente poderíamos afirmar que eles, quais aves corredoras da família dos estrutionídeos, os conhecidos avestruzes, aprenderam o suficiente não podendo se valer do desconhecimento deixando transparecer que não vêem dificuldades ou perigos. Seria preferido que se comportassem como os gansos, utilizados como guardas pelas tropas norte-americana no Vietnan dando aviso da aproximação do inimigo.

Mesmo tardiamente, ainda há tempo para contra-atacar?
Sempre há, se, ao invés da obsequiosidade costumeira, os Comandantes tiverem ouvidos para ouvir e assimilar o que os Centros de Inteligência do EB, MB e Aer tiverem para dizer-lhes.
Se permanecerem nessa pasmaceira de "deixa estar para ver como é que fica", ou "isso não é comigo, é com Min da Defesa, o barco vai afundar!

Não tenho como abrir as portas dos gabinetes dos comandantes e pedir-lhes, disciplinadamente e com toda a cortesia que me escutem durante algum tempo, mas os Generais da Ativa e os Inativos Ativos que no passado os comandaram têm.

Pelo bem do Brasil, precisam ser ouvidos.

Acordem generais!

Quem se omite, indiretamente se associa! (essa expressão é minha, não é de Benjamim Constant, como às vezes é confundida).


Lúcio Wandeck - Cel Int da Aer Ref - 80 anos
 
 
  
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Gramsci e o Presidente Militar Inocente Útil do Brasil

Charles Louis de Secondat – Barão de la Bréde e de Montesquieu II

"O presidente-militar de então e o outro que lhe sucedeu não retiveram alguma reserva dissuasória, entregaram os destinos da nação aos inimigos da democracia sem exigir recibo e garantia de devolução se saíssem dos trilhos, contrariando, sem mais nem porquê, as aspirações dos revolucionários de 1964. Julgavam-se senhores da verdade e da sapiência e agiram como tal."

Repasso o texto ‘Promessa cumprida’ fazendo coro com as palavras do autor, o ilustre escritor e filósofo Olavo de Carvalho, porém com ressalvas.

O mestre engana-se quando diz que “os luminares dos serviços de “inteligência” militares só enxergavam um adversário inofensivo, cansado de guerra, ansioso de paz e democracia, quase um amigo, enfim.”

Errou. Os analistas dos serviços militares de inteligência, assim como os seus chefes, cansaram de advertir, através dos Ministros Militares, os Presidentes da República quanto à execução de um processo gramsciano de tomada do poder.

Falaram às pedras, porque esses clientes preferenciais dos Serviços de inteligência não tinham capacidade de absorver as advertências que lhes chegavam às mãos.

Todos tinham sido militares de escol e alguns ostentavam, com justo orgulho, a condição de tríceps coroados, isto é, haviam sido os primeiros alunos das suas turmas nos Cursos de Formação, Aperfeiçoamento e Estado-Maior do Exército.

Não se pode atribuir-lhes culpa pelo excesso de ignorância no que se refere a matérias, por assim dizer, de natureza ideológica-política-cultural. Eles não tiveram aulas dessas coisas.

Haviam estudado cálculo, mecânica, termodinâmica, administração, contabilidade, línguas, balística, operações militares, e mais dezenas de matérias, mas para eles o italiano Antônio Gramsci não passava, talvez, de um ex-jogador do Roma ou de um compositor de óperas, algum contemporâneo de Puccini, ou seria de Verdi, quem sabe um ator que ganhou um Oscar de coadjuvante quando contracenou com Luciano Pavarotti em Rigoletto? Os sons de La Donna e Mobile lhes era familiar...

Olavo de Carvalho, no artigo anterior, tem meia razão quando diz que “Os militares, que em matéria de guerra cultural eram menos que amadores, nada perceberam.”

Por que só meia razão?

Porque Olavo generalizou quando colocou todos os militares na mesma escola.

Explico.

Decorridos menos de três anos do início das atividades guerrilheiras, os órgãos de inteligência das Forças Armadas, além de já disporem do pleno conhecimento de como agiam e de como estavam estruturadas as organizações terroristas, haviam feito o que podemos chamar de cursos de graduação, pós-graduação e mestrado em Movimento Comunista Internacional, com especialização no Brasil.

Quatro anos mais tarde, haviam concluído o Doutorado, ‘summa cum laude’.

Esse aprendizado não se deu à custa de porrada e de tortura como, de antemão, a Comissão da Verdade concluiu desde hoje aquilo que oficialmente só concluirá, falsamente, daqui a dois anos (copyright by Olavo). Acerca desse fenômeno, Olavo está certo. Mas acrescento que o Brasil, fazendo pouco caso do filósofo alemão Edmund Husserl, acaba de registrar patente fenomenológica internacional. 

O Doutorado foi obtido porque os órgãos de Inteligência se dedicaram a conhecer o inimigo ao extremo, estudando e analisando a vasta documentação que era apreendida com os terroristas na ocasião das prisões e nos seus redutos clandestinos.

Não raras vezes, e nisso Olavo de Carvalho acertou, os presos tornaram-se “quase amigos” dos militares de Inteligência. Era preciso conhecer cada vez mais o inimigo, esclarecer dúvidas e muitas vezes deslindar, filosoficamente, o âmago das resoluções dos comitês centrais das dezenas de organizações subversivas que foram sendo criadas e ramificadas. Para isso, os Analistas de Inteligência procurava estabelecer laços afetivos com os presos. Quem assistisse as demoradas conversas travadas entre eles até poderia acreditar que se tratava de uma troca de conhecimentos entre estudantes visando prepararem-se para exame vestibular.

Nota: essas demoradas conversas não ocorriam com presos pé-de-chinelo, a exemplo da companheira Dilma, uma moça ‘desletrada’, incapaz de discutir profundamente a doutrina e a praxis comunista. Guardadas as devidas proporções e intenções, ela não passava de uma pivete soldado do tráfico, como hoje conhecemos.

Note-se que logo após as prisões, os guerrilheiros, já tendo delatado os seus companheiros, o que fizeram com inacreditável despudor, nada mais tinham, sobre princípios e doutrinas, a esconder das forças de segurança. Haviam, conforme o jargão da época, desbundado. A partir desses momentos, mostravam-se ávidos em justificar os motivos que os levaram à tentativa de fazer eclodir uma revolução destinada à implantação de uma república comunista. E assim, de conversa em conversa, da vã filosofia ao exame de questões realmente relevantes, afloraram revelações que permitiram entender como se daria, ao longo do tempo, curso ao processo gramscista de tomada do poder.

Porém os Analistas de Inteligência não gozavam de alguma prerrogativa que lhes facultasse sugerir aos velhos comandantes, que, como Olavo de Carvalho acentua, lessem os Cadernos do Cárcere de um certo Antônio Gramsci, que não tinha sido jogador do Roma ou tenor consagrado.

Havia entre eles, quase todos jovens tenentes, capitães e majores, e os velhos generais-presidentes, um abismo político-cultural muito grande. Por mais que os serviços de Inteligência divulgassem boletins mensais de Inteligência, às vezes volumosos, analisando, depurando e resumindo as atividades do inimigo e os seus planos de dominação de mentes e corações visando a implantação, a longo prazo, de um regime comunista, nunca foram convocados  para descrever e explicar-lhes, didaticamente, o cenário que se avizinhava. Aos oficiais de inteligência nunca foi dada a oportunidade de oferecer aos presidentes respostas aos chamados interrogantes básicos: o que, como, quem, onde, quando, etc.

Tais autoridades  preocupavam-se mais em ver em Woodstocky apenas o que era divulgado pela mídia cooptada pelo MCI.

Preocupavam-se com as drogas, as bebidas e a suruba campal hipercoletiva, mas faltava-lhes olhos para ver o processo que se desenrolava além das imagens divulgadas pela mídia internacional. Reverberavam opiniões moralistas e revoltavam-se contra os que confundiam liberdade com libertinagem. Mas não se preocuparam além da conta. Afinal, se viam nos jovens militares de Inteligência um enorme contingente de Agentes 007 capazes de dar cabo dos mais espertos espiões da NKVD  -- muito mais treinados e perigosos do que aqueles milhares de jovens que cometiam sequestros, assaltos e assassinatos -- seria tarefa café pequeno neutralizar as organizações subversivas. Na realidade, a neutralização das ações, devido ao apoio que recebiam da Rússia, de Cuba e da China, não se deu assim com tanta facilidade, mas ao cabo de anos atingiu o seu objetivo.

Contudo, os presidentes-militares esqueceram-se de que os centros militares de Inteligência não passavam de órgãos de assessoramento e de operações de Inteligência. Não lhes cabia, visando a neutralização do processo gramscista, a execução de medidas de Contra-Inteligência, que teriam que ir muito além dos muros dos quartéis. Envolveriam ministérios civis e organizações subordinadas. E verbas consideráveis.

Cabia ao Supremo Mandatário criar um órgão e fornecer recursos de toda a ordem necessários à execução dessa campanha na qual teriam que estar engajados especialistas em relações públicas, como eram chamados aqueles que, anos mais tarde, teriam a especialização que hoje denominamos marketing.

Mas como poderiam tê-lo criado se desconheciam o inimigo, se desconheciam a necessidade da sua criação?

Não lhes bastava ter passado os olhos nos 29 Cadernos do Cárcere, como sugere Olavo, porque Gramsci não pode ser lido como quem lê gibi. Seria necessário refletir sobre todas as suas colocações, sobre planos de ação contínua, a ação católica, a ação nos sindicatos. Os presidentes não tinham tempo para isso...

No segmento de Inteligência militar, o documento mais valioso recebe a denominação de Documento de Inteligência Estimada - DIE.

Nele, além da descrição do panorama em curso, estimam-se as hipóteses adversas que poderão advir se não forem tomadas determinadas medidas.

Foi um documento com essa característica, oriundo do Ministério da Aeronáutica, que um dia chegou às mãos de um presidente militar que entendia muito de petróleo.

O presidente não gostou do que leu, que contrariava tudo aquilo que julgava adequado ao futuro da Nação.

Deu um vigoroso soco na mesa e determinou ao Ministro da Aeronáutica que destituísse da chefia do seu centro de Inteligência  o major-brigadeiro que lhe encaminhara o DIE . A ordem não foi cumprida!

E desprezando todas as advertências oriundas dos Centros de Inteligência que lhe tinham, durante anos, sido endereçadas, decidiu pela adoção de uma manobra política que denominou de “abertura política lenta, segura e gradual”.

Os modus faciendi e operandi dessa abertura eram tão canhestros e propícios aos projetos gramscianos, que, com certo grau de acerto, podemos ver naquele mandatário o Presidente Militar Inocente Útil do Brasil.

Antônio Gramsci, lá no fundo do seu pequeno túmulo onde jazia desde 1937 no cemitério romano, regozijou-se, porque vislumbrou que em tal abertura havia campo fértil para a disseminação da dialética-marxista, sobre "um contínuo e progressivo fazer-se."

Seguiram-se pequenos agravos sucessivos de baixa intensidade, que não foram capazes de despertar, individualmente, maiores reações,

Esse silêncio e essa omissão se deram por ignorância da metodologia empregada para a tomada do poder. Desconheciam a natureza da subversão gramsciana, que também é de aplicação lenta, segura e gradual.

Gramsci sabia que o presidente de então e os que lhe sucederiam não seriam capazes, por incompetência, de neutralizá-la conforme o figurino há muito desenhado pelo general chinês Sun-Tzu, aquele que nos fala “se conheceis o inimigo...”. 

Estava certo. O presidente-militar de então e o outro que lhe sucedeu não retiveram alguma reserva dissuasória. Deram curso ao projeto de abertura entregando os destinos da nação aos inimigos da democracia sem exigir recibo e garantia de devolução se saíssem dos trilhos, contrariando, sem mais nem porquê, as aspirações dos revolucionários de 1964. Julgavam-se senhores da verdade e da sapiência e agiram como tal.

Gramsci previu que os comunistas que estudassem e pusessem em prática, pelo menos em parte, tudo o que lhes ensinara nos Cadernos do Cárcere, seriam capazes de levar adiante as suas ideias. E foram.

Continuaram ocorrendo os mesmos pequenos agravos sucessivos de baixa intensidade aos quais me referi, sem que, devido à miopia dos Comandantes e dos seus Estados-Maiores, fossem capazes de despertar, coletivamente, nos oficiais-generais, as reações de que a verdadeira democracia carece, e o povo, que os tem em alta conta, exige.

Assim, continuamos a assistir, ano após ano, a execução do processo idealizado por Gramsci.

Até quando durará?

Quando se dará por consumado?

Não sabemos.

Senhores generais, tenham em conta que, se na ópera de Verdi a mulher é volúvel (La donna e mobile), na de Gramsci, comprovadamente, a revolução comunista não se afasta, lenta, segura e gradualmente, do rumo traçado.

Cabe aos senhores, sem o emprego efetivo das Forças Armadas, mas com o da razão e da dissuasória, chamar aos costumes quem está saindo dos trilhos.

 
 
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O pensamento de Gramsci
 
“Diz Goethe, quando a gente não sabe o que fazer, uma palavra é como uma tábua para o náufrago” (Olavo de Carvalho, “O Jardim das Aflições”)

O italiano Antonio Gramsci, um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, foi o primeiro teórico marxista a compreender que a revolução na Europa Ocidental teria que se desviar muito do rumo seguido pelos bolcheviques russos. Nesse sentido, ofereceu um novo “Que Fazer” ao Ocidente desenvolvido. Aquilo que ele chamou de “sociedade civil” – rede de instituições educativas, religiosas e culturais que disseminam modos de pensar – era, na Rússia, incapaz de fornecer uma doutrinação moral e intelectual de caráter unitário, uma vez que o Estado czarista fundamentava-se na ignorância, na apatia e na repressão, e não no consentimento voluntário dos súditos. Na ausência de uma articulação complexa da “sociedade civil” em condições de absorver a insatisfação, a única defesa da velha ordem era constituída pelo aparelho do Estado, que Gramsci denomina de “sociedade política”. O conjunto difuso da “sociedade civil”, que propaga a ideologia da classe dominante, não existia na Rússia.

Segundo Gramsci, o objetivo da batalha pela mudança é conquistar, um após outro, todos os instrumentos de difusão ideológica (escolas, universidades, editoras, meios de comunicação social e sindicatos), uma vez que os principais confrontos ocorrem na esfera cultural e não nas fábricas, nas ruas ou nos quartéis.

Dessa forma, Gramsci abandonou a generalizada tese marxista de uma crise catastrófica que permitiria, como um relâmpago, uma bem sucedida intervenção de uma vanguarda revolucionária organizada. Ou seja, uma intervenção do Partido. Para ele, nem a mais severa recessão do capitalismo levaria à revolução, como não a induziria nenhuma crise econômica, a menos que, antes, tenha havido uma preparação ideológica.

Segundo a linguagem colorida de Gramsci, o proletariado precisa transformar-se em força cultural e política dirigente dentro de um sistema de alianças, antes de atrever-se a atacar o poder do Estado-burguês. E o Partido deve adaptar sua tática a esses preceitos, sem receio de parecer que não é revolucionário.

Lênin sustentava que a revolução deveria começar pela tomada do Estado para, a partir daí, transformar a sociedade. Gramsci inverteu esses termos: a revolução deveria começar pela transformação da sociedade, privando a classe dominante da direção da “sociedade civil” e, só então, atacar o poder do Estado. Sem essa prévia “revolução do espírito”, toda e qualquer vitória comunista seria efêmera.

Para tanto, Gramsci definiu a sociedade como “um complexo sistema de relações ideais e culturais” onde a batalha deveria ser travada no plano das idéias religiosas, filosóficas, científicas, artísticas, etc. Por essa razão, a caminhada ao socialismo proposta por Gramsci não passava pelos proletários de Marx e Lênin e nem pelos camponeses de Mao-Tsetung, e sim pelos intelectuais, pela classe média, pelos estudantes, pela cultura, pela educação e pelo efeito multiplicador dos meios de comunicação social, buscando, através de métodos persuasivos, sugestivos ou compulsivos, mudar a mentalidade, desvinculando-a do sistema de valores tradicionais, para implantar os valores ateus e materialistas.

O comunismo de Gramsci é a “versão ocidental” do comunismo, e ao proclamar o diálogo e aceitar o debate, próprios dos sistemas verdadeiramente democráticos, trabalha sobre todas as formas de expressão cultural, atuando sob a cobertura do pluralismo, com a contribuição de todos aqueles que por compartilhar a ideologia marxista, por snobismo, por conveniência ou por negligência, se somam voluntária ou involuntariamente a essa nova expressão do “frentismo”, chamando “fascistas” ou “retrógados” aqueles que se opõem a essa forma de pensar e atuar.

Nessa confusão de idéias, chega-se a substituir a contradição hegeliana de “burguês – proletário” (tese e antítese) pela de “fascista – anti-fascista”. O inimigo não é o patrão e sim o fascista. Assim surge o mito do fascismo, que nada tem a ver com o fascismo histórico, sem dúvida questionável.

Quem quer que defenda os valores tradicionais da cultural ocidental é tachado de “fascista” e considerado genericamente como “um mal”. O grande erro dos comunistas, segundo Gramsci, foi o de crer que o Estado se reduz a um simples aparato político. Na verdade, o Estado atua não apenas com a ajuda do seu aparato político, como também por meio de uma ideologia que descansa em valores admitidos que a maioria dos membros da sociedade têm como supostos. A referida ideologia engloba a cultura, as idéias, as tradições e até o sentido comum. Em todos esses campos atua um poder no qual também se apóia o Estado: o poder cultural.

A necessidade de uma reforma intelectual e moral para lograr uma mudança de mentalidade nas sociedades ocidentais que foram constituídas por convicções, critérios, normas, crenças, pautas, segundo a concepção cristã da vida, é de suma importância para o triunfo da revolução mundial.

Porém, nesse propósito de formação de uma nova consciência proletária, o gramscismo encontra um obstáculo: a religião. De acordo com os estudos de Gramsci, a Igreja Católica, encarada como inimiga irreconciliável do comunismo, utiliza elementos fundamentais e comuns na sociedade, chegando a toda população, tanto urbana como rural. O catolicismo, segundo Gramsci, é uma doutrina geral simplificada a fim de ser entendida por todos. Analisando esse fato, Gramsci chegou à conclusão que uma das chaves da sobrevivência do catolicismo ao longo dos séculos foi o fato de que em seu seio conviveram harmonicamente humildes e elites, sentenciando que “a Igreja romana sempre foi a mais tenaz em impedir que oficialmente se formem duas religiões: a dos intelectuais e a das almas simples”.

Concluiu que é a Igreja Católica que inspira a formação desse sentido comum cristão e, por conseguinte, era preciso erradicá-lo mediante uma ação não violenta já que essa via seria repelida pelas sociedades ocidentais, onde influi e gravita o consenso e a vontade das maiorias. Gramsci afirmou que “os elementos principais do sentido comum são ministrados pelas religiões e, por isso, a relação entre o sentido comum e a religião é muito mais íntima do que a relação entre o sentido comum e os sistemas filosóficos dos intelectuais”. “Então - prossegue Gramsci – todo o movimento cultural que tenda a substituir o sentido comum e as velhas concepções do mundo deve repetir incansavelmente os próprios argumentos, variando suas ‘formas’”.

Dessa forma, as novas concepções se difundem utilizando sofismas, dando novas interpretações a fatos históricos e chegando a parafrasear o Evangelho em alguns casos, mostrando distintos “ensinamentos” de determinadas passagens bíblicas, tal como a expulsão dos mercadores do Templo de Deus, utilizando-os como argumentos para justificar a violência e fortalecer a imagem do “Cristo guerrilheiro”, criada pelos “cristãos revolucionários”.

Essas concepções, porém, não deverão ser apresentadas em formas puras, uma vez que o povo não as aceita na medida em que provoquem uma mudança traumática. Para isso, devem ser apresentadas como combinações, explorando “a crise intelectual e a perda da fé na concepção que se deseja mudar”.

Por isso, diz Gramsci, não se deve enfrentar frontalmente a Igreja Católica, e sim criar os enfrentamentos em seu seio. Enfrentamentos que não sejam apresentados como provocados por causas exógenas e sim endógenas.

Acrescente-se que o marxismo de Gramsci se apresenta como uma interpretação “filosófica” distinta do marxismo conhecido. Não há filosofia e práxis; existe uma igualdade entre pensamento e ação ao ponto em que tudo é considerado ação. Em conseqüência, a “filosofia da práxis” deve ser elaborada partindo de uma equivalência entre filosofia e política, e deverá ser construída como ciência da história, posto que filosofia e história são indissociáveis. Diz Gramsci que “a filosofia da práxis supera as precedentes, por isso é original, especialmente porque abre uma via completamente nova, ou seja, renova totalmente o modo de conceber a filosofia mesma”.

Quanto ao papel dos intelectuais, ele deixa claro que a tarefa de agente da mudança na nova concepção de mundo não pode ser desenvolvida pelos intelectuais burgueses, considerados “o elo mais débil do bloco burguês”. Devem surgir “novos” intelectuais da massa do povo. Dessa forma, a tarefa a ser desenvolvida por essa “nova” elite será a de formar uma vontade coletiva e lograr a reforma moral e intelectual, agregando que uma reforma cultural que eleve os extratos submersos da sociedade não pode ocorrer sem uma prévia reforma econômica e uma mudança na sua posição social. Por isso, afirmou que “uma reforma intelectual e moral tem que ser vinculada forçosamente a um programa de reforma econômica”.
FONTE:
Artigo "O pensamento de Gramsci", escrito por Carlos I. S. Azambuja em 28 de abril de 2005, no site de notícias Mídia sem Máscara.