CARTA
AO PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA
Dr.Milton
Pires – CREMERS 20958
Ilmo. Sr. Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)
Dr. Roberto Luiz d'Ávila
Doutor Roberto, por favor, permita-me a apresentação: eu sou médico
em Porto Alegre e estou formado há praticamente vinte anos. Não
julgo ter obtido na prática profissional o sucesso e o
reconhecimento de vários colegas brasileiros. Pouco ou nada realizei
de importante no meio acadêmico e economicamente estou muito, mas
muito longe mesmo, de ser um “vencedor.” Afirmo ao senhor, sem
orgulho mas sem constrangimento algum, que pouco ou nada mais me
resta do que poder dizer aos meus filhos – ainda pequenos – que
sou médico, que estudei (e estudo até hoje) para “curar as
pessoas e que trabalho num hospital”. A eventual vaidade, Dr.
Roberto, que poderia eu ter ao escrever-lhe resume-se portanto
somente nisso: um mínimo de dignidade com relação a maneira de
ganhar o pão de cada dia. Para ser sincero, gostaria de lhe dizer
que – ao invés da vaidade – é vergonha o sentimento que me
domina nessa carta.
Ontem li, estarrecido, que o Governo Federal prepara nova Medida
Provisória. Essa deve ser, senhor presidente, o golpe de
misericórdia na nossa profissão pois há de acabar definitivamente
com qualquer atribuição do Conselho Federal de Medicina. Médicos
estrangeiros poderão aqui trabalhar sem fazer registro algum nos
conselhos regionais! Tal fato decorreria da “indignação” da
presidente Dilma com relação às ações judiciais que vem sendo
impetradas tanto pelo CFM como pelas demais entidades que nos
representam e surge depois das renúncias dos presidentes dos
conselhos regionais de medicina do Paraná e de Minas Gerais – atos
notáveis capazes de orgulhar todos os médicos de verdade dessa
nação.
Nunca, em todo meu tempo como médico, achei que fosse escrever o que
estou prestes a colocar no papel agora. Peço-lhe desculpas e espero
um dia que meu sentimento verdadeiro seja de arrependimento, mas me
obriga a consciência nesse momento a implorar-lhe..a
desesperadamente pedir-lhe – em nome do resto de decência que
ainda existe entre a esmagadora maioria dos colegas do Brasil: por
favor, renuncie ao cargo de presidente do CFM! Não empreste a essa
ditadura que nos governa o aspecto de legalidade, de obediência ao
ordenamento jurídico e de consideração pela nossa profissão que o
PT não tem...Por favor não sinta-se culpado, nem se imagine traindo
aqueles que lhe consideram nosso legítimo representante ou tampouco
preocupe-se em abrir as portas do CFM aos militantes desse
Partido-Religião que agora governa o Brasil.
Doutor Roberto, a crise dos médicos brasileiros hoje nada mais tem a
ver com baixos salários, condições de trabalho ou plano de
carreira...não se relaciona à necessidade de revalidação de
diplomas de médicos cubanos nem com a lei do Ato Médico...tudo isso
já passou...nós chegamos ao “fundo do poço” e quem nos levou
até lá foi um partido que infiltrou-se dentro das nossas
associações, sindicatos e conselhos regionais impondo aos médicos
o relativismo moral e a vergonha constante de reconhecerem a si
próprios como classe profissional distinta de todas as demais que
operam no campo da saúde. São esses, senhor presidente, os médicos
que se submetem ao vil papel de trair tudo que juraram e de esquecer
tudo que aprenderam para emprestar seu conhecimento ao governo
federal na elaboração das medidas provisórias que estão acabando
com a medicina brasileira.
Doutor Roberto, quando nada mais resta a um espírito bem formado na
luta contra o mal, quando esgotaram-se por completo todas as
possibilidades de diálogo, quando encerraram-se a força dos
argumentos e se iniciaram os argumentos da força existe ainda uma
suprema obrigação: afastar-se completamente dessas pessoas! Em nome
de todos os médicos brasileiros que respeitam a nossa profissão,
que admiram o senhor e o nosso Conselho eu lhe peço - não
acreditando eu mesmo que estou escrevendo uma coisa dessas: renuncie
ao cargo!
Porto Alegre, 1ºde outubro de 2013.
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