Carta aberta a Patricia Mora Castellanos, Presidente da Frente Ampla da Costa Rica
ESCRITO POR UCRANIA BRANDT | 31 JANEIRO 2014
Os assassinatos aumentaram 444% na Venezuela durante os 15 anos de
chavismo.
Hugo Chávez destruiu o aparato produtivo do país e pôs a Venezuela
para importar mais de 70% dos produtos que consome. Ele e seus cúmplices
acabaram com nossa empresa petroleira. Puseram a PDVSA, a poderosa PDVSA, para fabricar lavadoras e
secadoras, e para importar alimentos que antes
produzíamos.
Dona Patricia Mora Castellanos
Presidente da Frente Ampla
Presidente,
Permito-me dirigir-me à senhora no momento de haver lido um artigo que
chegou em minhas mãos graças a estas mídias novas chamadas redes sociais. O
artigo em questão se intitula “Chávez morreu
invicto”.
Antes de
lhe dar minha opinião de seu escrito, sabendo que não me pediu, mas entendendo
que sua campanha eleitoral se baseia na pluralidade democrática e realça os
atributos intelectuais da mulher e sua participação na vida pública de suas
Nações, queria me apresentar como sou. Uma venezuelana com profundas raízes na
Venezuela, centenas de anos de tradição familiar nesse solo que me viu nascer e
ao qual amo profundamente. Além disso e para rematar minhas bênçãos, tive a
sorte de viver cinco maravilhosos anos em seu país, Costa Rica. Levo a Venezuela
e a Costa Rica muito cravados em minha alma, e talvez isso seja o que me motiva
a lhe escrever hoje.
Ao
começar a lê-la, me deparei com uma frase dilacerante que diz: “Ante algumas
mortes, a pessoa não pode deixar de maldizer a traição, a má jogada com que o
corpo pode nos surpreender”. E estou totalmente de acordo com a senhora, a
morte é dolorosa para os que ficam vivos, para os que ficam chorando o
morto.
Em meu
país, por exemplo, entre um sistema judicial corrupto com mais de 80 por cento
dos juízes nomeados a dedo, um sistema policial podre que abusa de seu poder e
um tráfico de influências atroz, a impunidade alcança um grotesco 97 por cento
no dia de hoje.
Quando
Hugo Chávez chegou ao poder, se manejavam no país cifras de 4.550 homicídios ao
ano, cifra que já era preocupante nesse momento. Em 2013, fechou-se o ano com a
assombrosa cifra de 24.763 pessoas mortas, mas não de enfermidades tratáveis,
não por maus passos do corpo humano, não em clínicas dispostas para seus
cuidados. Essas são mortes violentas, nas mãos de uma bandidagem desenfreada que
assalta com armas longas os desafortunados que cruzam o caminho dos delinqüentes
(cifras não oficiais, óbvio). Os assassinatos aumentaram 444% na Venezuela
durante os 15 anos de chavismo. Dizer que no necrotério de Caracas entraram em
um fim de semana 100 corpos, já não surpreende a ninguém.
Também
estou muito de acordo com a senhora quando diz que a partir de agora devemos
falar de uma Venezuela e um continente anterior e posterior a
Chávez.
Hugo
Chávez Frías semeou o ódio de classes em uma população que, mesmo com
diferenças, se tolerava e se respeitava. Hugo Chávez destruiu o aparato
produtivo do país e pôs a Venezuela para importar mais de 70% dos produtos que
consome. Ele e seus cúmplices acabaram com nossa empresa petroleira. Puseram a
PDVSA, a poderosa PDVSA, para fabricar lavadoras e secadoras, e para importar
alimentos que antes produzíamos. Os neófitos que queimaram refinarias, causaram
acidentes gravíssimos.
Inventaram-se negócios de importação de alimentos e deixaram deteriorar
milhares e milhares de quilos de comida nos portos da Venezuela, pois o
verdadeiro negócio “socialista” era tirar dólares do rigoroso controle cambiário
que nos tem asfixiados desde há anos, não levar comida ao povo. Pode revisar a
palavra PUDREVAL na internet para que entenda as dimensões de semelhante caso de
corrupção. E sabe alguma coisa? Não foi ninguém, ninguém sabe
nada...
A
Venezuela mudou, Dona Patricia, é certo, porque agora há que se resguardar em
sua casa de dia para que não o matem por um par de sapatos ou um celular. Se se
vai ao cinema, entram na sala e roubam todo mundo. Se se vai a um restaurante
entram, roubam, comem, limpam-se com um guardanapo e vão embora. Para fazer
supermercado, deve-se percorrer a quatro ou cinco locais para poder se
abastecer. Limitam a venda dos alimentos pela galopante escassez. E assim vai
tudo, como dizemos em meu país, “ladeira abaixo”. A senhora sabia que os presos
têm discotecas dentro das penitenciárias, levantadas e financiadas pela
flamejante ministra do Poder Popular para o Sistema Penitenciário? Eles mandam
dentro e fora das penitenciárias sob a cumplicidade covarde e silente do
governo... melhor parar de contar, Dona Patricia. Essa é a Venezuela que Hugo
Chávez deixou. A senhora sabe quanto se designa do orçamento nacional à
segurança cidadã? Um por cento, repito, 1 por cento.
Agora o
continente é outra história, esse ficou transbordante, pletórico, cheio de
dólares que compram consciências, que financiam socialismos e comunismos que
ninguém entende, anacrônicos e vergonhosos, vale dizer, o Socialismo do Século
XXI. Esse invento nefasto que surgiu em uma prisão venezuelana, quando nosso
presidente Hugo Chávez foi convicto e confesso parar num calabouço, por ter
atentado contra nossa Constituição Nacional naquele oprobrioso golpe de Estado.
Ninguém do chavismo sabe ainda, depois de 15 anos, explicar seus fundamentos
filosóficos e deve ser porque não tem senso comum.
Mujica,
os Castro, a dona argentina, Correa, Evo, dona Dilma, os chineses, os
bielo-russos e todos os que desfrutaram das benesses do chavismo traduzidos em
dólares, petróleo, lingotes de ouro e contratos de lesa-pátria em detrimento
nosso, pois esses senhores estão felizes, divinamente bem. Se é definitivo, há
que falar de um antes e um depois de Chávez. Antes de Chávez os cubanos tentaram
nos invadir por Machurucuto, agora, depois de Chávez, somos colônia cubana. Que
triste!
Quem diz
que isto não é certo se nosso comandante cuspiu na oligarquia? A oligarquia para
Chávez, era tudo o que não lhe agradasse. Porém, resultou que os mais oligarcas
foram eles. O capitalismo está mais presente do que nunca em meu país, são
milionários os militares que fazem vista grossa ante a injustiça. Assim os
juízes, os assembleístas e todo aquele que ocupe um posto de importância para a
permanência do chavismo no poder. A derrama de dinheiro e de luxos é asquerosa,
simplesmente asquerosa. Ele não acabou com o capitalismo, a única coisa que ele
fez foi trocar de mãos. A boliburguesia (N.doE.: neologisimo para
“burguesia bolivariana”) venezuelana não pôde nem pode ocultar suas grandes
fortunas. O que lhe conto, Dona Patricia, é que as filhas de Chávez decidiram de
forma autoritária ficar vivendo para sempre na casa Presidencial. É delas, pois,
como a propriedade privada já não vale nada na Venezuela. É algo assim como se
fosse uma herança, como se a Venezuela fosse uma monarquia e elas fossem, neste
caso, as meia-irmãs da Cinderela, herdeiras forçadas do trono. Aviões privados,
viagens, luxos, excessos socialistas, claro. Porque o socialismo sempre
funciona, quando com dinheiro alheio.
A
DEMOCRACIA, Dona Patricia, é o livre concurso de idéias. A democracia é o
sistema que lhe permite comparar essas idéias, analisá-las e chegar a uma
verdade. Em um país onde se fecham mais de 69 emissoras de rádio e um canal de
televisão, em um país onde os jornalistas são ameaçados de morte, onde não os
deixam entrar em eventos noticiosos do governo, um país onde seqüestram os
filhos dos donos de jornais, não há democracia, no máximo uma palhaçada do que
restou dela.
Um país
onde o Estado utiliza os recursos de todos os cidadãos para fazer campanha
política, controla o poder eleitoral, o judicial e os militares, não é
democrático.
Chávez
nacionalizou empresas, não; Chávez expropriou empresas que deixou morrer no
abandono e afetou não só a produtividade dessas empresas e os trabalhos dos que
trabalham lá, afetou a qualidade de vida de todos os venezuelanos.
Maduro
volta a desvalorizar minha triste moeda, seis desvalorizações chavistas, uma
tampinha de refresco vale mais que um bolívar. Isso Dona, não é revolução. Isso
é saque a uma Nação.
A senhora
continue fazendo política, respeito que tenha ideais e que lute por eles.
Veremos... Eu, de coração, espero que não chegue o dia em que a Costa Rica se
veja atolada nesse esterco que é a Venezuela.
Hugo
Chávez, Maduro e todos os seus sequazes passarão à história de nosso país como
uns tristes palhaços que prometeram acabar com a pobreza e o que fizeram foi
fazer-nos infinitamente mais pobres, não só do bolso, senão mais triste ainda,
da alma.
Sorte em
sua contenda.
Tradução:
Graça Salgueiro