18 de janeiro de 2015

O Brasil sofre muito mais com a criminalidade do que com terrorismo

  
Coronel José Gobbo Ferreira


  

JE SUIS BRÈSIL
    
Coronel José Gobbo Ferreira
   
 
O mundo ficou chocado com o bárbaro assassinato de doze cartunistas do jornal Charlie Hebdo, publicação bastante conhecida na França por sua crítica ácida e ferina a sistemas, religiões e políticos, por meio de charges extremamente inteligentes embora nem sempre de bom gosto.
 
O brutal crime foi a manifestação mais crua e candente da intolerância religiosa e atingiu em cheio o conceito democraticamente sagrado da liberdade de expressão.
 
A comoção provocada pelos acontecimentos e os protestos que se sucederam merecem ser analisados sob a ótica da atual situação político-econômica brasileira, onde, aliás, a própria liberdade de expressão corre sério risco na ditadura bolivariana em que vivemos.
 
O povo brasileiro atravessa a época mais negra de sua história desde que um marujo da esquadra de Cabral, plantado na cesta da gávea, bradou “Terra à vista”.
 
No quesito mortes violentas, intimamente ligado à segurança pública, pouquíssimos países ultrapassam nossos números. É como se houvesse uma guerra do Vietnã por ano em nossas terras. O aparato policial é incapaz de proteger a população; dos crimes cometidos apenas 8% são deslindados; e deles, apenas 48% dos perpetradores são julgados e condenados em processos cheios de recursos e de chicanas, que duram anos e que, se exitosos, enviam os réus a um inferno dantesco que é o sistema penitenciário nacional.  Não há dinheiro para melhorar esse quadro, diz o governo do PT, e ninguém vai às ruas protestar por essa situação que coloca cada cidadão brasileiro na condição do “cabra marcado para morrer”.
 
Não há como se falar de assistência à saúde neste país. Para a imensa maioria da população ela é uma sinistra mentira digna de ser caricaturada em uma edição qualquer do Charlie Hebdo. Os necessitados de atenção médica se amontoam nos corredores dos hospitais, deitados em macas ou no chão mesmo, sem nenhum resquício da dignidade devida a um ser humano em condições penosas. Exames médicos que poderiam antecipar problemas e evitar dor, sofrimento e morte, demoram meses e meses para serem realizados e os pacientes vão a óbito bem antes da data marcada para os exames diagnósticos. Mais uma vez, isso ocorre por falta de recursos, segundo o governo do PT. E nenhum cidadão realmente digno desse título vai às ruas para protestar sobre essa situação.
 
A educação, que é a chave para a solução da maior parte desses problemas, diminuindo a violência e aumentando o respeito entre as criaturas, esclarecendo o povo acerca de medidas simples de higiene de cuidados que podem prevenir muitas moléstias menos graves, da dengue à diarreia, não existe para aquela mesma parcela que já não tem segurança nem saúde. E aí vem a grande crueldade. Em uma época essencialmente tecnológica como a que vivemos, um número enorme de nossos patrícios atravessa a existência na condição de mortos-vivos, analfabetos funcionais, inaptos para desfrutar as benesses do progresso e condenados a subempregos durante toda sua vida profissional. Porque isso? Porque não há recursos suficientes para mudar esse cenário, de acordo com o partido no poder, o PT. Mais uma vez, ninguém se dá ao trabalho de ir à ruas para protestar contra esse descalabro.
 
Mas onde estão esses recursos? A cada dia ficamos sabendo de mais e mais escândalos, todos orquestrados pelo PT. Só a Operação Lava Jato já permite estimar até agora, que mais de R$10.000.000.000,00(escrevo por extenso: dez bilhões de Reais) foram desviados da Petrobras para satisfazer a sede de poder do PT e de outros de sua “base de sustentação”, em um mecanismo cuidadosamente organizado para canalizar tais recursos para os cofres desses partidos e para o bolso de seus caciques. E, prestem atenção, as investigações até agora só atingiram a Petrobras, e a caixa preta do BNDES ainda não foi aberta!!!
 
O cidadão comum é assassinado aleatoriamente em uma roleta russa que dá a partida assim que ele põe os pés fora de casa. Os menos favorecidos morrem como moscas  em moradias sem saneamento ou em hospitais indignos desse nome, devido à falta de qualquer arremedo de estrutura eficiente que lhes proteja a saúde e a vida, enquanto legiões de jovens são condenados a viver sua vida inteira como cidadãos delta do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, por falta de educação adequada. E os recursos que permitiriam mudar esse quadro são roubados escandalosamente por aqueles cuja missão precípua seria exatamente zelar por eles. E ninguém, absolutamente ninguém tem a hombridade de sair às ruas para exprimir sua revolta contra esse estado de coisas.
 
Na França, mais de um milhão de pessoas saíram ontem às ruas para protestar contra o assassinato de uma dúzia de cidadãos. No Brasil, é impossível reunir uma dúzia de pessoas para protestar contra o extermínio sistemático de mais de um milhão de seres humanos por ano.
 
Como diriam os humoristas do Charlie Hebdo: “C´est un pays de merde!”