24 de agosto de 2012

A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin


     
A Era dos Assassinos
A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin
  
 


POR EULER DE FRANÇA BELÉM EM 19/12/2009


A Era dos Assassinos — A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin"A Era dos Assassinos — A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin" (Record, tradução de Marcelo Schild, 391 páginas), dos historiadores Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski, é um livro rico em revelações. Durante o debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos, o republicano John McCain disse: "Eu vi nos olhos de Putin três letras: KGB". Quem não se interessa pela história da Rússia pode pensar que se trata apenas de uma boa frase de efeito. Depois da leitura de "A Era dos Assassinos", o leitor concluirá que McCain resumiu a história do livro, ou seja, a história recente da Rússia.

Os historiadores mostram, com uma infinidade de informações, que a Kontora, como é conhecida a KGB (o novo nome é FSB, Serviço de Segurança Federal da Rússia), finalmente conseguiu conquistar o poder na Rússia. É a primeira vez, na história do país, que a corporação, a polícia secreta, detém o controle político e manda na economia. Opositores, sejam políticos ou empresários, são brutalmente assassinados e as investigações dão em nada. Cerca de 50 empresários e banqueiros foram assassinados desde que Putin assumiu o poder. Sob Stálin, a KGB, com outro nome, era forte, mas não tão forte quanto agora. Um dos méritos do livro é mostrar que Putin governa sob controle da KGB. Sua relativa autonomia pode ser comprovada apenas num campo: o gosto extremado e vaidoso por esportes. Putin (ou a KGB) não tem adversários, tem inimigos e, por isso, elimina-os de modo implacável. Alguns são mortos a tiros; outros, envenenados. A jornalista Anna Politkovskaya, que investigou a fundo a guerra da Tchetchênia e desmascarou as mentiras de Putin, foi assassinada. Os aliados de Putin sabiam que o presidente (hoje, primeiro-ministro, mas mandando no presidente Dmitri Medvedev, porque este não desafia a Kontora) detestava Politkovskaya. Resultado: se uniram e, no dia 7 de outubro de 2006, data do aniversário de Putin, mataram a brilhante e corajosa repórter. Tudo indica que os mandantes do crime são a FSB, Ramzan Kadirov e Umar Djabrailov.

O ex-tenente-coronel Alexander Litvinenko cometeu um crime grave do ponto de vista da KGB: traiu-a. Os traidores são assassinados pela Kontora, em geral de modo cruel. Litvinenko ousou denunciar que a corporação estava se preparando para matar o oligarca Boris Berezovski (o bilionário que tentou mandar no time do Corinthians). Foi preso e, para não morrer, exilou-se na Inglaterra. Acreditou que estava salvo. A KGB localizou-o e o envenenou com Polônio-210, veneno radiativo letal.

Sabe-se que outros jornalistas, intelectuais, políticos e empresários vão morrer. Basta se colocarem em oposição a alguma decisão do governo da KGB. A mídia é hoje quase que inteiramente controlada pelo governo de Putin-Medvedev. A Kontora mudou a legislação e a mídia, quando não está sob censura, é inteiramente controlada pela corporação.

Há outro aspecto pouco discutido a respeito de Putin. A corrupção de Stálin era moral (era perverso, sádico e pragmático) e teria morrido pobre (segundo os autores do livro, provavelmente envenenado). Putin e seu grupo, pelo contrário, são milionários, medularmente corruptos e adeptos da boa vida em tempo integral. A nova Nomenklatura extorque empresários e o próprio Estado. A esquerda brasileira, que fala tanto em privataria, deveria ler a história de como Putin privatiza estatais ou de como estatais privatizadas são retomadas de empresários. Não há segurança jurídica alguma e quem reclama morre ou tem de sair do país.

A deterioração moral chegou a tal ponto que o grupo de Putin é acusado até mesmo de envolvimento com o tráfico de cocaína. "As principais rotas de entrada de cocaína na Europa", segundo os autores do livro, passam pela Rússia. Eles revelam que 1.092 quilos de cocaína, provenientes da Colômbia, desapareceram nas mãos da KGB. Os traficantes de drogas russos mantêm relações cordiais com os aliados de Putin. São protegidos.

As olimpíadas de inverno de 2014 serão realizadas em Sochi e os aliados de Putin se tornaram proprietários dos melhores negócios da região. Como Putin convenceu o ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional, o espanhol Juan Antonio Samaranch, a apoiar Sochi para sede das olimpíadas?

Felshtinsky e Pribiloviski revelam que, quando embaixador da Espanha na extinta União Soviética, Samaranch tinha o hábito de comprar antiguidades, atividade considerada ilegal, e, por isso, foi investigado pela KGB. Agentes da Kontora "ofereceram duas opções a Samaranch: ele poderia ser comprometido através de publicações de artigos na imprensa soviética e estrangeira detalhando suas atividades ilegais, o que, sem dúvida, encerraria sua carreira diplomática, ou poderia colaborar com a KGB como agente secreto. Samaranch escolheu a segunda opção".

Samaranch foi eleito presidente do COI, em grande parte, por ter obtido o apoio da KGB, que influenciou os países do Leste Europeu. Mais tarde, o "agente" espanhol retribuiu o favor, agora para Putin, e vetou outros países e concedeu à Rússia o direito de sediar as olimpíadas de inverso de 2014.

Os autores do livro avalizam a tese de que Lênin e sua mulher foram envenenados a mando de Stálin. Leia abaixo sobre a o crueza com que Putin tratou um de seus inimigos, Iuri Shutov.


O caso do inimigo de Putin

O texto a seguir foi extraído do livro "A Era dos Assassinos - A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin" (Editora Record), de Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski. O título do capítulo é "Iuri Shutov" (páginas 256, 257, 258, 259 e 260).

Ao contrário da descrição do hábito do presidente Putin de não se esquecer dos amigos, devemos comentar sobre como ele lida com os inimigos. Quando Putin se decide a "pôr fim em alguém", ele não descansa até atingir o objetivo.

Quando Putin começou a trabalhar para Sobtchak, em 1990, Sobtchak tinha pessoas trabalhando para ele que, segundo Putin, "desde então, conquistaram notoriedade e prestaram maus serviços a Sobtchak". Putin referia-se acima de tudo a Iuri Shutov, um executivo e político de caráter duvidoso que era o conselheiro extra-oficial do presidente da Lensovet, Sobtchak, durante a primavera e o outono de 1990 (oficialmente, Shutov serviu de conselheiro para Sobtchak por apenas alguns dias, de 5 a 12 de novembro de 1990).

No período soviético, o pequeno burocrata Shutov fora acusado de tentar incendiar a câmara de deputados de Leningrado (Smolny) visando destruir provas de seus delitos financeiros. Ele foi posto na prisão. Durante a Perestróica de Gorbatchev, Shutov foi perdoado e, em seguida, exonerado. Obviamente, ele não pretendera incendiar o Smolny. Depois que Sobtchak o acolheu e o expulsou vergonhosamente mais tarde (aparentemente, sob aconselhamento de Putin), Shutov começou a reunir provas incriminatórias contra Sobtchak e seu círculo mais próximo. Era um período difícil, todos quebravam as leis e havia uma profusão de provas incriminatórias a serem reunidas. Mais tarde, parte do material reunido por Shutov entrou em seu panfleto em forma de livro, "O coração de Sobtchak (Sobchachie serdtse, um trocadilho com o título do famoso romance de Mikhail Bulgakov, Sobachie serdtse, "O coração de um cachorro") e em sua continuação, "Os delitos de Sobtchak, ou Como Todos Foram Roubados" (Sobchachya prokhindiada, ili kak vsekh obokrali). A intenção era a de que os livros fossem as duas primeiras partes de uma trilogia intitulada "Roubo".

Para escrever os livros, Shutov foi ajudado por Mark Grigoriev, um jornalista profissional que publicara certa vez um artigo na revista Ogonyok sobre a tentativa de "incendiar" o Smolny, que contribuíra fortemente para o perdão e a exoneração de Shutov. O escritório de Shutov ficava no Hotel Leningrado. Shutov alugou um quarto para seu co-autor no mesmo hotel, e os dois escritores trabalharam em paz no livro - que, obviamente, não poderia trazer alegrias a Sobtchak.

Em fevereiro de 1991, houve um incêndio no hotel que resultou na morte de Mark Grigoriev. Isso não intimidou Shutov, que prosseguiu obstinadamente com o trabalho que iniciara. De algum modo, ele obtivera uma gravação de uma conversa casual entre Sobtchak e um residente da inteligência francesa na Rússia. Sobtchak pediu que Putin interviesse e impedisse a publicação da conversa. E Putin, utilizando o Diretório Regional de Leningrado para o Combate ao Crime Organizado (Rubop), organizou uma batida no apartamento de Shutov e confiscou a fita com a gravação.

A batida e a busca foram conduzidas de modo ilegal e não-oficial. Na noite de 6 de outubro de 1991, Shutov entrou no próprio apartamento e encontrou ladrões no interior. Quando fugiram da cena do crime, os criminosos quebraram o crânio de Shutov com um martelo. Quando, vários meses depois, em março de 1992, Shutov recebeu a visita de oficiais do governo com um mandado de busca oficial e uma ordem de prisão (por organizar um atentado contra a vida do presidente do Azerbaijáo, Abulfaz Eltcibei, o que era tão verossímil quanto a acusação anterior de tentar incendiar o Smolny), Shutov reconheceu um deles, Dmitri Milin, como um dos ladrões que lhe fraturara o crânio. Acabou sendo descoberto que o segundo "ladrão" era um colega de Milin, Dmitri Shakhanov. Os dois eram oficiais de alto escalão da Rubop de Leningrado. Depois de passar um ano e meio em uma prisão pré-julgamento, Shutov foi inicialmente libertado com a condição de não deixar o país e, em 1996, foi plenamente absolvido por uma decisão da corte do distrito de Vyborgsky, de São Petersburgo.

Nos dois primeiros panfletos anti-Sobtchak (publicados, respectivamente, em 1992 e em 1993), o vingativo Shutov não mencionou uma única vez o nome de Putin. Mas, em 1998, Shutov tornou-se deputado da assembléia legislativa da São Petersburgo e começou a acreditar que agora estava realmente protegido pela imunidade parlamentar, à qual tinha direito por conta de sua posição. Através do jornal Novy Peterburg, o qual patrocinava e onde escrevia uma coluna intitulada "Todos os Homens do Rei", Shutov lançou o rumor de que o novo diretor da FSB, Vladimir Putin, fora chamado de volta da Alemanha Oriental durante o período que passara lá como oficial da inteligência internacional por ofensas traidoras contra a Rússia: "Durante os quase cinco anos em que prestou serviço na Alemanha Oriental, o capitão Putin da KGB não conquistou resultados visíveis. Contudo, foi observado entrando em contato não-sancionado com um membro da rede de agentes inimiga. Depois disso, foi enviado imediatamente para a União Soviética, aonde chegou em um automóvel GAZ-24 Volga usado, comprado na Alemanha Ocidental, com três tapetes produzidos na Alemanha."

No mesmo artigo, Shutov apresentou a própria interpretação do relacionamento entre Putin e Sobtchak, quando Putin era supervisor da KCB na Universidade Estadual de Leningrado e Sobtchak era professor na faculdade de direito da universidade. Segundo Shutov, Sobtchak era um agente freelancer e informante de Putin. Putin "precisava coletar informações para a KGB, trabalhar com agentes empregados pela universidade e recrutar novos informantes... O professor Sobtchak acabou preso na rede de interesses da KGB e informava de bom grado ao assistente pró-reitor, Putin, sobre toda a gama de assuntos que o interessavam. Posteriormente, em 1990, um pequeno fichário contendo os relatórios originais deste informante, escrito à mão, chamado na terminologia burocrática da KGB de ´pasta de trabalho do agente, tornou-se um argumento muito forte em apoio à nomeação de Putin como conselheiro do presidente da câmara de deputados da cidade de Leningrado, Sobtchak".

Os leitores do "Novy Peterburg" nunca descobriram se o que Shutov escrevera era verdade. A resposta de Putin, que na época era diretor da FSB, veio menos de dois meses depois da publicação do controverso artigo de Shutov. Em fevereiro de 1999, por decisão da corte, Shutov perdeu a imunidade parlamentar e foi preso sob suspeita de organizar uma série de crimes graves, incluindo o assassinato de um oficial proeminente da cidade, Mikail Manevitch, em São Petersburgo, em 1997, e o assassinato de uma ativista democrata proeminente, Galina Starovitova, em 1998. Para atacar Shutov, Putin chegou a utilizar o famoso repórter oficial da televisão Mikhail Leontiev, que apareceu no Canal Um da televisão russa exigindo punição para o "bandido e malfeitor".

No entanto, em novembro de 1999, a corte do distrito de Kuybyshev de São Petersburgo alterou as restrições pré-julgamento para uma promessa de não deixar o país e determinou que Shutov fosse libertado da prisão. Shutov foi libertado diretamente do tribunal, mas, alguns minutos depois, homens mascarados e armados invadiram o local. Houve uma briga, durante a qual diversas pessoas ficaram feridas, incluindo um operador de câmera da televisão, cujo braço foi quebrado, e o próprio Shutov, que levou várias coronhadas e socos na cabeça e acabou desmaiando. Segundo Shutov, os homens mascarados levaram-no para o prédio da promotoria municipal e o espancaram. Por causa do espancamento, Shutov perdeu metade da audição e um olho. Médicos independentes não tiveram permissão para entrar na promotoria, enquanto os especialistas médicos do governo diagnosticaram que o acusado estava com a saúde perfeita. No entanto, vários dias depois, foi realizada uma audiência na corte a pedido dos advogados de Shutov, e os paramédicos ambulanciais que haviam sido convocados para a audiência entregaram um relatório médico exigindo a hospitalização imediata de Shutov. Mas, em vez de ser hospitalizado, Shutov foi enviado para a prisão pré-julgamento de São Petersburgo, sendo transferido depois de algum tempo para a prisão de Vyborg.

Inicialmente não estava claro quem organizara a abdução de Shutov do tribunal. Posteriormente, a promotoria municipal de São Petersburgo assumiu a responsabilidade pela ação. A unidade de forças especiais (OMON) que invadira o tribunal fora enviada de Moscou para realizar a operação.

Ativistas de direitos humanos e democratas adotaram uma posição fraca e hesitante em relação ao "caso Shutov", pois as visões antiliberais e antiocidentais de Shutov eram inegáveis e ele provavelmente tinha conexões com o mundo do crime. Apesar do perdão do tribunal e da determinação da Suprema Corte Russa da ilegalidade de Shutov ser mantido preso, apesar da reeleição de Shutov para o parlamento da cidade em 2002, o inimigo pessoal de Putin passou sete (!) anos sendo transferido entre diferentes prisões pré-julgamento sem ser condenado, sendo finalmente condenado à prisão perpétua em fevereiro de 2006 por organizar uma série de assassinatos por contrato de executivos (as acusações de ter assassinado Manevitch e Starovoitova foram retiradas).

Nunca foi descoberto quem matou Manevitch e Starovoitova. Staravoitova foi morta na entrada do prédio onde morava. O assassinato de Manevitch foi executado de modo altamente profissional. O assassino atirou no topo de um prédio alto com um rifle de mira telescópica em um carro que parara em um sinal de trânsito. As balas atravessaram o teto do veículo. A mulher de Manevitch estava com ele no carro no momento do assassinato, mas não foi ferida. Investigadores criminais desenvolveram diversas teorias possíveis em relação ao incidente. Eles também descobriram como Manevitch conhecera quem seria sua futura esposa. Um certo agente da FSB pedira a uma jovem mensageira que pegasse um trem para Moscou e entregasse uma bolsa lacrada a um homem que a encontraria na estação Leningradsky. No trem, um jovem chamado Mikhail sentou-se ao lado da jovem. Eles passaram toda a noite conversando e trocaram números de telefone. Em Moscou, quando desceu do trem, a jovem foi realmente recebida por um homem. Ele pegou a bolsa, afastou-se um pouco e, acreditando que não estava mais sendo visto, jogou a bolsa em uma lata de lixo sem nem abri-la.

O jovem do trem era Mikhail Manevitch. A jovem era sua futura esposa. O agente da FSB que pedira a ela para entregar a bolsa era Vladimir Putin. Só se pode imaginar quem foi "agente" de quem neste incidente e quem foi o "objeto".







    
 
   
  
putinA esquerda brasileira, que fala tanto em privataria, deveria ler a história de como Putin privatiza estatais ou de como estatais privatizadas são retomadas de empresários.
As olimpíadas de inverno de 2014 serão realizadas em Sochi e os aliados de Putin se tornaram proprietários dos melhores negócios da região.

"A Era dos Assassinos — A Nova KGB e o Fenômeno Vladimir Putin" (Record, tradução de Marcelo Schild, 391 páginas), dos historiadores Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski, é um livro rico em revelações. Durante o debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos, o republicano John McCain disse: "Eu vi nos olhos de Putin três letras: KGB". Quem não se interessa pela história da Rússia pode pensar que se trata apenas de uma boa frase de efeito. Depois da leitura de "A Era dos Assassinos", o leitor concluirá que McCain resumiu a história do livro, ou seja, a história recente da Rússia. 
Os historiadores mostram, com uma infinidade de informações, que a Kontora, como é conhecida a KGB (o novo nome é FSB, Serviço de Segurança Federal da Rússia), finalmente conseguiu conquistar o poder na Rússia. É a primeira vez, na história do país, que a corporação, a polícia secreta, detém o controle político e manda na economia. Opositores, sejam políticos ou empresários, são brutalmente assassinados e as investigações dão em nada. Cerca de 50 empresários e banqueiros foram assassinados desde que Putin assumiu o poder. Sob Stálin, a KGB, com outro nome, era forte, mas não tão forte quanto agora. Um dos méritos do livro é mostrar que Putin governa sob controle da KGB. Sua relativa autonomia pode ser comprovada apenas num campo: o gosto extremado e vaidoso por esportes. Putin (ou a KGB) não tem adversários, tem inimigos e, por isso, elimina-os de modo implacável. Alguns são mortos a tiros; outros, envenenados. A jornalista Anna Politkovskaya, que investigou a fundo a guerra da Tchetchênia e desmascarou as mentiras de Putin, foi assassinada. Os aliados de Putin sabiam que o presidente (hoje, primeiro-ministro, mas mandando no presidente Dmitri Medvedev, porque este não desafia a Kontora) detestava Politkovskaya. Resultado: se uniram e, no dia 7 de outubro de 2006, data do aniversário de Putin, mataram a brilhante e corajosa repórter. Tudo indica que os mandantes do crime são a FSB, Ramzan Kadirov e Umar Djabrailov. 

O ex-tenente-coronel Alexander Litvinenko cometeu um crime grave do ponto de vista da KGB: traiu-a. Os traidores são assassinados pela Kontora, em geral de modo cruel. Litvinenko ousou denunciar que a corporação estava se preparando para matar o oligarca Boris Berezovski (o bilionário que tentou mandar no time do Corinthians). Foi preso e, para não morrer, exilou-se na Inglaterra. Acreditou que estava salvo. A KGB localizou-o e o envenenou com Polônio-210, veneno radiativo letal.

Sabe-se que outros jornalistas, intelectuais, políticos e empresários vão morrer. Basta se colocarem em oposição a alguma decisão do governo da KGB. A mídia é hoje quase que inteiramente controlada pelo governo de Putin-Medvedev. A Kontora mudou a legislação e a mídia, quando não está sob censura, é inteiramente controlada pela corporação.

Há outro aspecto pouco discutido a respeito de Putin. A corrupção de Stálin era moral (era perverso, sádico e pragmático) e teria morrido pobre (segundo os autores do livro, provavelmente envenenado). Putin e seu grupo, pelo contrário, são milionários, medularmente corruptos e adeptos da boa vida em tempo integral. A nova Nomenklatura extorque empresários e o próprio Estado. A esquerda brasileira, que fala tanto em privataria, deveria ler a história de como Putin privatiza estatais ou de como estatais privatizadas são retomadas de empresários. Não há segurança jurídica alguma e quem reclama morre ou tem de sair do país.

A deterioração moral chegou a tal ponto que o grupo de Putin é acusado até mesmo de envolvimento com o tráfico de cocaína. "As principais rotas de entrada de cocaína na Europa", segundo os autores do livro, passam pela Rússia. Eles revelam que 1.092 quilos de cocaína, provenientes da Colômbia, desapareceram nas mãos da KGB. Os traficantes de drogas russos mantêm relações cordiais com os aliados de Putin. São protegidos.

As olimpíadas de inverno de 2014 serão realizadas em Sochi e os aliados de Putin se tornaram proprietários dos melhores negócios da região. Como Putin convenceu o ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional, o espanhol Juan Antonio Samaranch, a apoiar Sochi para sede das olimpíadas?

Felshtinsky e Pribiloviski revelam que, quando embaixador da Espanha na extinta União Soviética, Samaranch tinha o hábito de comprar antiguidades, atividade considerada ilegal, e, por isso, foi investigado pela KGB. Agentes da Kontora "ofereceram duas opções a Samaranch: ele poderia ser comprometido através de publicações de artigos na imprensa soviética e estrangeira detalhando suas atividades ilegais, o que, sem dúvida, encerraria sua carreira diplomática, ou poderia colaborar com a KGB como agente secreto. Samaranch escolheu a segunda opção".

Samaranch foi eleito presidente do COI, em grande parte, por ter obtido o apoio da KGB, que influenciou os países do Leste Europeu. Mais tarde, o "agente" espanhol retribuiu o favor, agora para Putin, e vetou outros países e concedeu à Rússia o direito de sediar as olimpíadas de inverso de 2014.

Os autores do livro avalizam a tese de que Lênin e sua mulher foram envenenados a mando de Stálin. Leia abaixo sobre a o crueza com que Putin tratou um de seus inimigos, Iuri Shutov.
  
 

O caso do inimigo de Putin 

O texto a seguir foi extraído do livro "A Era dos Assassinos - A Nova KGB e o Fenômeno Vladimir Putin" (Editora Record), de Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski. O título do capítulo é "Iuri Shutov" (páginas 256, 257, 258, 259 e 260).

Ao contrário da descrição do hábito do presidente Putin de não se esquecer dos amigos, devemos comentar sobre como ele lida com os inimigos. Quando Putin se decide a "pôr fim em alguém", ele não descansa até atingir o objetivo.

Quando Putin começou a trabalhar para Sobtchak, em 1990, Sobtchak tinha pessoas trabalhando para ele que, segundo Putin, "desde então, conquistaram notoriedade e prestaram maus serviços a Sobtchak". Putin referia-se acima de tudo a Iuri Shutov, um executivo e político de caráter duvidoso que era o conselheiro extra-oficial do presidente da Lensovet, Sobtchak, durante a primavera e o outono de 1990 (oficialmente, Shutov serviu de conselheiro para Sobtchak por apenas alguns dias, de 5 a 12 de novembro de 1990).

No período soviético, o pequeno burocrata Shutov fora acusado de tentar incendiar a câmara de deputados de Leningrado (Smolny) visando destruir provas de seus delitos financeiros. Ele foi posto na prisão. Durante a Perestróica de Gorbatchev, Shutov foi perdoado e, em seguida, exonerado. Obviamente, ele não pretendera incendiar o Smolny. Depois que Sobtchak o acolheu e o expulsou vergonhosamente mais tarde (aparentemente, sob aconselhamento de Putin), Shutov começou a reunir provas incriminatórias contra Sobtchak e seu círculo mais próximo. Era um período difícil, todos quebravam as leis e havia uma profusão de provas incriminatórias a serem reunidas. Mais tarde, parte do material reunido por Shutov entrou em seu panfleto em forma de livro, "O coração de Sobtchak (Sobchachie serdtse, um trocadilho com o título do famoso romance de Mikhail Bulgakov, Sobachie serdtse, "O coração de um cachorro") e em sua continuação, "Os delitos de Sobtchak, ou Como Todos Foram Roubados" (Sobchachya prokhindiada, ili kak vsekh obokrali). A intenção era a de que os livros fossem as duas primeiras partes de uma trilogia intitulada "Roubo".

Para escrever os livros, Shutov foi ajudado por Mark Grigoriev, um jornalista profissional que publicara certa vez um artigo na revista Ogonyok sobre a tentativa de "incendiar" o Smolny, que contribuíra fortemente para o perdão e a exoneração de Shutov. O escritório de Shutov ficava no Hotel Leningrado. Shutov alugou um quarto para seu co-autor no mesmo hotel, e os dois escritores trabalharam em paz no livro - que, obviamente, não poderia trazer alegrias a Sobtchak.

Em fevereiro de 1991, houve um incêndio no hotel que resultou na morte de Mark Grigoriev. Isso não intimidou Shutov, que prosseguiu obstinadamente com o trabalho que iniciara. De algum modo, ele obtivera uma gravação de uma conversa casual entre Sobtchak e um residente da inteligência francesa na Rússia. Sobtchak pediu que Putin interviesse e impedisse a publicação da conversa. E Putin, utilizando o Diretório Regional de Leningrado para o Combate ao Crime Organizado (Rubop), organizou uma batida no apartamento de Shutov e confiscou a fita com a gravação.

A batida e a busca foram conduzidas de modo ilegal e não-oficial. Na noite de 6 de outubro de 1991, Shutov entrou no próprio apartamento e encontrou ladrões no interior. Quando fugiram da cena do crime, os criminosos quebraram o crânio de Shutov com um martelo. Quando, vários meses depois, em março de 1992, Shutov recebeu a visita de oficiais do governo com um mandado de busca oficial e uma ordem de prisão (por organizar um atentado contra a vida do presidente do Azerbaijáo, Abulfaz Eltcibei, o que era tão verossímil quanto a acusação anterior de tentar incendiar o Smolny), Shutov reconheceu um deles, Dmitri Milin, como um dos ladrões que lhe fraturara o crânio. Acabou sendo descoberto que o segundo "ladrão" era um colega de Milin, Dmitri Shakhanov. Os dois eram oficiais de alto escalão da Rubop de Leningrado. Depois de passar um ano e meio em uma prisão pré-julgamento, Shutov foi inicialmente libertado com a condição de não deixar o país e, em 1996, foi plenamente absolvido por uma decisão da corte do distrito de Vyborgsky, de São Petersburgo.

Nos dois primeiros panfletos anti-Sobtchak (publicados, respectivamente, em 1992 e em 1993), o vingativo Shutov não mencionou uma única vez o nome de Putin. Mas, em 1998, Shutov tornou-se deputado da assembléia legislativa da São Petersburgo e começou a acreditar que agora estava realmente protegido pela imunidade parlamentar, à qual tinha direito por conta de sua posição. Através do jornal Novy Peterburg, o qual patrocinava e onde escrevia uma coluna intitulada "Todos os Homens do Rei", Shutov lançou o rumor de que o novo diretor da FSB, Vladimir Putin, fora chamado de volta da Alemanha Oriental durante o período que passara lá como oficial da inteligência internacional por ofensas traidoras contra a Rússia: "Durante os quase cinco anos em que prestou serviço na Alemanha Oriental, o capitão Putin da KGB não conquistou resultados visíveis. Contudo, foi observado entrando em contato não-sancionado com um membro da rede de agentes inimiga. Depois disso, foi enviado imediatamente para a União Soviética, aonde chegou em um automóvel GAZ-24 Volga usado, comprado na Alemanha Ocidental, com três tapetes produzidos na Alemanha."

No mesmo artigo, Shutov apresentou a própria interpretação do relacionamento entre Putin e Sobtchak, quando Putin era supervisor da KCB na Universidade Estadual de Leningrado e Sobtchak era professor na faculdade de direito da universidade. Segundo Shutov, Sobtchak era um agente freelancer e informante de Putin. Putin "precisava coletar informações para a KGB, trabalhar com agentes empregados pela universidade e recrutar novos informantes... O professor Sobtchak acabou preso na rede de interesses da KGB e informava de bom grado ao assistente pró-reitor, Putin, sobre toda a gama de assuntos que o interessavam. Posteriormente, em 1990, um pequeno fichário contendo os relatórios originais deste informante, escrito à mão, chamado na terminologia burocrática da KGB de ´pasta de trabalho do agente, tornou-se um argumento muito forte em apoio à nomeação de Putin como conselheiro do presidente da câmara de deputados da cidade de Leningrado, Sobtchak".

Os leitores do "Novy Peterburg" nunca descobriram se o que Shutov escrevera era verdade. A resposta de Putin, que na época era diretor da FSB, veio menos de dois meses depois da publicação do controverso artigo de Shutov. Em fevereiro de 1999, por decisão da corte, Shutov perdeu a imunidade parlamentar e foi preso sob suspeita de organizar uma série de crimes graves, incluindo o assassinato de um oficial proeminente da cidade, Mikail Manevitch, em São Petersburgo, em 1997, e o assassinato de uma ativista democrata proeminente, Galina Starovitova, em 1998. Para atacar Shutov, Putin chegou a utilizar o famoso repórter oficial da televisão Mikhail Leontiev, que apareceu no Canal Um da televisão russa exigindo punição para o "bandido e malfeitor".

No entanto, em novembro de 1999, a corte do distrito de Kuybyshev de São Petersburgo alterou as restrições pré-julgamento para uma promessa de não deixar o país e determinou que Shutov fosse libertado da prisão. Shutov foi libertado diretamente do tribunal, mas, alguns minutos depois, homens mascarados e armados invadiram o local. Houve uma briga, durante a qual diversas pessoas ficaram feridas, incluindo um operador de câmera da televisão, cujo braço foi quebrado, e o próprio Shutov, que levou várias coronhadas e socos na cabeça e acabou desmaiando. Segundo Shutov, os homens mascarados levaram-no para o prédio da promotoria municipal e o espancaram. Por causa do espancamento, Shutov perdeu metade da audição e um olho. Médicos independentes não tiveram permissão para entrar na promotoria, enquanto os especialistas médicos do governo diagnosticaram que o acusado estava com a saúde perfeita. No entanto, vários dias depois, foi realizada uma audiência na corte a pedido dos advogados de Shutov, e os paramédicos ambulanciais que haviam sido convocados para a audiência entregaram um relatório médico exigindo a hospitalização imediata de Shutov. Mas, em vez de ser hospitalizado, Shutov foi enviado para a prisão pré-julgamento de São Petersburgo, sendo transferido depois de algum tempo para a prisão de Vyborg.

Inicialmente não estava claro quem organizara a abdução de Shutov do tribunal. Posteriormente, a promotoria municipal de São Petersburgo assumiu a responsabilidade pela ação. A unidade de forças especiais (OMON) que invadira o tribunal fora enviada de Moscou para realizar a operação.

Ativistas de direitos humanos e democratas adotaram uma posição fraca e hesitante em relação ao "caso Shutov", pois as visões antiliberais e antiocidentais de Shutov eram inegáveis e ele provavelmente tinha conexões com o mundo do crime. Apesar do perdão do tribunal e da determinação da Suprema Corte Russa da ilegalidade de Shutov ser mantido preso, apesar da reeleição de Shutov para o parlamento da cidade em 2002, o inimigo pessoal de Putin passou sete (!) anos sendo transferido entre diferentes prisões pré-julgamento sem ser condenado, sendo finalmente condenado à prisão perpétua em fevereiro de 2006 por organizar uma série de assassinatos por contrato de executivos (as acusações de ter assassinado Manevitch e Starovoitova foram retiradas).

Nunca foi descoberto quem matou Manevitch e Starovoitova. Staravoitova foi morta na entrada do prédio onde morava. O assassinato de Manevitch foi executado de modo altamente profissional. O assassino atirou no topo de um prédio alto com um rifle de mira telescópica em um carro que parara em um sinal de trânsito. As balas atravessaram o teto do veículo. A mulher de Manevitch estava com ele no carro no momento do assassinato, mas não foi ferida. Investigadores criminais desenvolveram diversas teorias possíveis em relação ao incidente. Eles também descobriram como Manevitch conhecera quem seria sua futura esposa. Um certo agente da FSB pedira a uma jovem mensageira que pegasse um trem para Moscou e entregasse uma bolsa lacrada a um homem que a encontraria na estação Leningradsky. No trem, um jovem chamado Mikhail sentou-se ao lado da jovem. Eles passaram toda a noite conversando e trocaram números de telefone. Em Moscou, quando desceu do trem, a jovem foi realmente recebida por um homem. Ele pegou a bolsa, afastou-se um pouco e, acreditando que não estava mais sendo visto, jogou a bolsa em uma lata de lixo sem nem abri-la.

O jovem do trem era Mikhail Manevitch. A jovem era sua futura esposa. O agente da FSB que pedira a ela para entregar a bolsa era Vladimir Putin. Só se pode imaginar quem foi "agente" de quem neste incidente e quem foi o "objeto".